No auge de seus 20 anos, Douglas Vargas Dias tem um sonho diferente da maioria dos jovens da mesma idade:
O que eu queria mesmo era que a minha medula voltasse a funcionar, porque, aí, eu não precisaria estar no hospital e nem precisaria de um doador.
Douglas foi diagnosticado com aplasia de medula óssea no início deste ano. O jovem, que é de Lavras do Sul, começou a sentir cansaço fazendo pouco esforço e, eventualmente, sentia o coração bater em ritmo acelerado. Ele procurou por tratamento e foi internado em um hospital, em Bagé. Três dias depois da internação, em 28 de fevereiro, foi transferido para o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), onde teve o diagnóstico confirmado. Desde então, há quase 10 meses, ele segue internado no hospital.
Eu fazia pequenas caminhadas e já me sentia cansado. Isso não era normal, ainda mais para mim, que dançava. De madrugada, do nada, sentia meu coração bater muito, muito rápido conta o jovem.
A rotina de Douglas mudou completamente: as aulas no curso de Contabilidade, as coreografias de dança pop que praticava e os passeios com os amigos foram substituídos por dias inteiros de internação, cuidados e tratamento. A mãe, Tatiana Vargas Dias, 37 anos, largou o emprego em uma fábrica de Porto Alegre para cuidar do filho. A irmã mais nova de Douglas, de 8 anos, foi morar com a avó, em Lavras do Sul, no período em que a mãe passa no hospital, para ficar mais perto dela e facilitar os encontros.
A doença de Douglas é extremamente rara e grave e provoca falência medular, conforme Ederson Reis, oncologista pediátrico do Husm:
A partir desta falência, a medula para de produzir todos os componentes do sangue. Como o Douglas não reage bem à medicação, ele precisa de um transplante de medula óssea para se curar.
Como os familiares do jovem não são compatíveis, ele foi cadastrado no Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme). Dos 3,6 milhões de voluntários inscritos no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). Todos incompatíveis com Douglas.
Mas o rapaz não perdeu as esperanças e, enquanto espera, conta com outros doadores. Douglas precisa de transfusões de sangue e de plaquetas a cada três dias, em média. O medo de não tê-las disponíveis para o filho faz parte da angustiante rotina de Tatiana.
Nós temos ajuda do pessoal aqui do hospital e estamos sempre pedindo para os amigos e, especialmente, para os nossos familiares doarem sangue. Sempre estamos correndo atrás, especialmente de plaquetas, que nem sempre as pessoas querem doar explica a mãe.
Nos próximos dias, o jovem pode receber alta do hospital, mas não poderá viajar. Douglas está feliz com a chance de saída, mas deseja mesmo é que sua vida volte ao normal:
Não vejo a hora de voltar para Lavras e de poder fazer todas as coisas que eu fazia!
Transplante como cura
Cerca de 50% dos pacientes que sofrem da mesma doença de Douglas Vargas Dias, a aplasia de medula, respondem bem ao tratamento com medicação. A outra metade, em geral, é como o jovem: precisa do transplante de medula óssea para se curar. Para eles, não há opções. Pacientes com outras doenças no sangue, como leucemias, alguns tipos de linfomas e neoplasias hematológicas, também projetam a esperança de voltar a uma vida normal na possibilidade do transplante.
Nem todas essas pessoas encontram doadores em suas famílias, e o Registro de Doadores de Medula Óssea (Redome) é o caminho com mais chances de sucesso de compatibilidade. Além de Douglas, outros 1.381 pacientes dependem de doações voluntárias, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Mas não basta que as pessoas queiram doar e atendam aos requisitos (leia mais no quadro da página ao lado). É preciso ser compatível. Por isso, quanto mais doadores, maior a chances de sucesso e mais vidas podem ser salvas.
As estatísticas indicam que 40% das pessoas encontram um do